Mais de mil toneladas de lixo foram retiradas do Rio Negro e igarapés
MANAUS – Conhecida mundialmente por estar localizada no ‘coração’ da Floresta Amazônica e cercada pela maior bacia hidrográfica do mundo, Manaus esconde ‘segredos’ nada ecológicos nas águas do Rio Negro e dos igarapés que cortam a sua área urbana. No entanto, a enchente de 2021 trouxe luz ao gravíssimo problema ambiental: toneladas de lixo têm sido retiradas, diariamente, dos leitos das águas fluviais que cercam a cidade mais populosa da Amazônia.
Para quem anda pelas ruas de Manaus, não é difícil cruzar com riachos poluídos, e instantaneamente, deparar-se com garrafas pet, saco plástico e outros dejetos boiando em igarapés, mas os resíduos visíveis são irrisórios em relação à imensidão da tragédia ecológica oculta no interior dessas águas fluviais.
Na iminência de se tornar a maior enchente em mais de cem anos de monitoramento, a cheia de 2021 tem, de certa forma, expelido os dejetos que recebe ao longo dos anos. Somente nos primeiros meses de 2021, já foram retirados mais de mil toneladas de lixo dos igarapés e da área da orla do Rio Negro na capital, segundo a prefeitura.
Em meio à falta de políticas públicas e a inexistência de cidadania – recorrente em todos os nichos sociais, quem mais sofre com o problema ambiental é a população que reside em áreas alagadas da capital.
Mãe de duas filhas, a autônoma Maria do Socorro, de 36 anos, precisou alugar uma outra casa após a cheia ter inundado e cercado de lixo a residência onde ela vive há mais de duas décadas, na rua Universal, bairro Educando, Zona Sul de Manaus.“
Pensei muito no risco de contrair alguma doença, principalmente em relações às minhas filhas. Tem aparecido muita cobra também, e o odor do lixo trazido por essa água poluída é muito forte, então refleti muito sobre tudo isso e decidi fazer um sacrifício ainda maior, porque as coisas já estão bem difíceis, e me mudei para uma casa duas ruas acima”
A autônoma conta que descarta o lixo doméstico o corretamente, mas que já viu alguns moradores jogando resíduos em lugares impróprios.
“Eu não tenho muito estudo, mas a minha mãe sempre me ensinou o mínimo. Lugar de lixo é no lixo, mas nem todos pensam assim. Infelizmente, muita gente ignora a natureza e descarta as coisas em todo o lugar, e não é só aqui. Já vi muita gente ‘educada’ jogando lixo na rua, por exemplo”, ponderou Maria.
Descarte irregular e falta de saneamento são os principais problemas

De acordo com o ambientalista Carlos Durigan, a falta de saneamento e destinação correta dos resíduos em Manaus tem gerado um problema gravíssimo de poluição sistêmica a partir da contaminação das águas, solo e organismo.
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Uma grande carga de esgoto é lançada diariamente nos nossos rios e igarapés sem nenhum tipo de tratamento e há o descarte de material sólido também, incluindo lixo doméstico, industrial e até mesmo entulhos de diversas origens. Todo esse material contamina nossos recursos hídricos com um grande potencial e, consequentemente, as pessoas que consomem esta água, bem como vive nas proximidades destes ambientes contaminados”
Além da capital não contar com um sistema de tratamento de esgoto e efluentes lançados nas águas, ainda existe a má destinação de resíduos sólidos e entulho em toda a cidade.
“Mesmo Manaus contando com coleta de lixo em seis dias da semana, muita gente ainda despeja seus resíduos em nossas áreas verdes e até mesmo dentro de igarapés. Esse lixo acaba por gerar todos os problemas decorrentes desta poluição residual. Seria importante haver um esforço redobrado para fortalecer a destinação correta de nossos resíduos e ainda buscar conscientizar a população da necessidade de aderir a estes esforços”, afirmou Durigan.
Coleta de esgoto é problema crônico
Conforme o Relatório Trata Brasil como base no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS – base 2018), divulgado no ano passado, Manaus ocupa a sexta pior posição entre as cidades brasileiras em relação à coleta de esgoto: apenas 12,43% da população possui acesso ao serviço.
A capital do Amazonas só tem um desempenho melhor que Caucaia, Aparecida de Goiânia, Rio Branco, Jaboatão dos Guararapes e Belém.
Prefeitura deve elaborar plano de saneamento
Neste mês, Engenheiros da Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Município de Manaus (Ageman) iniciaram a elaboração do novo diagnóstico do Sistema de Esgotamento Sanitário da capital amazonense. Os dados coletados deverão nortear decisões importantes em torno do saneamento básico da cidade.
Além disso, a Secretária Municipal de Limpeza Pública (Semulsp) informou ao EM TEMPO, que vem realizando mutirões de limpeza nos rios e igarapés de Manaus, diariamente.
FONTE: PORTAL EM TEMPO