O Laudo de Perícia do Instituto de Criminalística do Amazonas sobre a morte do engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos de 42 anos, divulgado na última semana, apresenta diversos elementos que reforçam de forma clara a inocência de Alejandro Molina. O caso, amplamente divulgado na imprensa, foi alvo de informações distorcidas e tornou-se palanque político.
Flávio foi encontrado morto no dia 30 de setembro de 2019, em um terreno baldio no bairro Tarumã, zona Oeste. Mayc Parede e o policial militar Elizeu da Paz assumiram o crime. O laudo foi expedido um ano após o fato confirmando os depoimentos prestados à época.
Flávio foi morto fora do Condomínio
Uma das principais informações que inocentam Alejandro e constam no documento é o fato do engenheiro ter sido morto fora do Condomínio Passaredo. Os peritos responsáveis pelo laudo, Mahatma Sonhará Araújo de Porto, Christian Anderson F. da Gama e Bráulio Leite Pedroso, concluíram que a residência 179 – onde Alejandro morava – fora apenas um “local relacionado” ao fato. O “local imediato”, no qual o corpo foi encontrado, é o terreno no bairro Tarumã.
Na cronologia da ação montada pela perícia, é mantida a versão que Elizeu entrou na residência de Alejandro, usando balaclava e armado, para “dar um susto” nos presentes. No laudo, consta o print da conversa de Júnior no WhatsApp enviando a localização com a seguinte mensagem: “Estou refém, assalto mano, liga pra polícia, urgente” – corroborando a tese de que o grupo acreditou ser uma invasão de criminosos.
Entretanto, a situação saiu do controle e o PM junto com Mayc decidem retirar Flavio do local. Na conformidade dos depoimentos, os peritos citam que “Elizeu e Mayc [conduziram] Flavio com vida até o terreno baldio”.
Em outro ponto do documento, quando há uma descrição sobre a morte de Flavio e detalhes coletados, a perícia volta a afirmar que o engenheiro ainda estava vivo quando foi levado para o terreno por Mayc e Elizeu. “Em suma: os achados periciais apresentados apontam a possibilidade de ação arrastamento de Flávio Rodrigues dos Santos em superfície rígida e áspera quando em vida”.
Além disso, o resultado das amostras de sangue coletadas na casa 179 coincidem com o perfil genético de Alejandro reforçando que o mesmo foi agredido na cabeça, como dito em depoimento tanto por Molina quanto por Da Paz.
“Quanto às amostras 9 e 12, referem-se, respectivamente a, 01 (um) swab com vestígios de coloração vermelho-violácea semelhante a sangue, coletado da região inferior da cadeira (“perna”) da sala de jantar e 01 (um) swab, coletado próximo ao rodapé do balcão da cozinha. Para estas amostras, o exame de identificação genética resultou em perfil coincidente com o de Alejandro Molina Valeiko”.
Ou seja, Flávio não sofreu nenhuma agressão dentro da casa de Alejandro que provocasse qualquer tipo de sangramento antes da chegada de Elizeu e Mayc, algo insinuado em diversas matérias veiculadas pela mídia – mesmo que não houvesse nenhuma prova concreta sobre.
Após levarem Flavio, Elizeu e Mayc teriam retirado as roupas que a vítima estava usando. Os trajes, uma camisa e uma bermuda, foram encontrados próximo ao terreno onde o corpo foi localizado. Após análise na bermuda, a perícia constatou que o material genético era compatível com o de Elizeu Da Paz, embora o único que tenha assumido a autoria crime tenha sido Mayc Parede.
“Na amostra questionada 2.E[referente a bermuda, o perfil genético masculino obtido, coincide com perfil genético de Elizeu da Paz de Souza.” Quando estavam no terreno, Flávio sofreu múltiplas agressão e a causa da morte foi “decorrência da anemia aguda proveniente das lesões na região abdominal que atingiu as alças intestinais”, conforme consta no laudo pericial.
Ainda no documento, referente às possíveis motivações para o crime apenas Elizeu Da Paz apresentou a versão do “susto mal-sucedido”, Mayc “nada acrescentou”, e em relação a Alejandro não se aplicava o questionamento.
Omissão e uso político
Um dos pontos mais controversos do caso é Alejandro ter sido indiciado por omissão. Para o Ministério Público, Molina poderia ter evitado o resultado se tivesse feito algo. Entretanto o lapso do Ministério Público é questionável sobre não indiciar o Condomínio Passaredo pelo mesmo crime.
Os porteiros permitiram que Elizeu da Paz e Mayc Vinícius, juntamente com o engenheiro, saíssem do residencial mesmo com uma pessoa esfaqueada (Elielton Magno) no local. A portaria poderia ter evitado a morte de Flávio.
Para especialistas do Direito Penal, o caso claramente tornou-se palanque político por forçar o envolvimento de alguém não político em um crime massificado pela mídia, ao contrário de outros fatos que também ocorreram em Manaus e não tiveram a mesma visibilidade.
“A polícia diz que ele não fez nada e o indicia? Como é que é isso? Eu não encontro outra palavra na Língua Portuguesa para não dizer que é perseguição, no caso política, e o pior: por fato de terceiros, que ele mesmo não é político e o Arthur não é acusado de nada. Se o Alejandro não fosse enteado do prefeito, isso [o caso] não saía na quinta página de um jornal em duas colunas”, afirmou Félix Valois, um dos advogados de defesa.