Segundo Atlas da Violência, número de casos no Amazonas aumentou 10,4% entre 2017 e 2018. Brasil foram 4,5 mil mulheres assassinadas
O Amazonas foi o sexto estado do Brasil com a maior taxa de homicídios de mulheres em 2018. De acordo com dados do Atlas da Violência de 2020, no Amazonas foram registradas 127 mulheres mortas em 2018, já no ano anterior 115 foram vítimas de homicídios no estado. Os dados mostram uma alta de 10,4% entre 2017 e 2018 no número de casos.
Segundo dados mais recentes sobre feminicídios do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 1.206 mulheres foram assassinadas. Nove em cada dez casos apontaram para morte por companheiro ou ex-companheiro. Em Manaus, casos de homicídios são frequentes.
De nacionalidade venezuelana, Franyerlis Pastor Escobar, 25, foi morta com pelo menos duas facadas, no último domingo (1), na avenida E, antiga Juruti, bairro Alvorada, Zona Centro-Oeste de Manaus. Conforme informações da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), o companheiro da vítima, Rodrigo Alfonzo Mendoza, foi o principal suspeito do crime.
Em outubro, um enfermeiro de 28 anos foi preso suspeito de matar uma jovem de 20 anos com mais de 30 facadas, em uma quitinete, na Zona Centro-Sul de Manaus. Ele e a vítima moravam na mesma casa.
Em setembro, André Felipe Silva dos Santos, 28, foi preso por matar com mais de 40 facadas a jovem Emilaine de Souza Souza. O culpado foi indicado por feminicídio.
“Histórico machista do país”
A violência contra mulheres é uma das principais formas de violação de direitos humanos, atingindo-as em seus direitos à vida, à saúde e à integridade física. Para o sociólogo Luiz Antonio Nascimento, a taxa de homicídios no Amazonas cresce em decorrência do histórico machista do país, que acredita que o homem é proprietário da mulher.
“A maior parte dos homicídios da mulher no Amazonas indicam casos de feminicídio e quase sempre ocorrem no âmbito familiar ou em ambiente público decorrente principalmente de relações. Tem um elemento novo no Amazonas, que são homicídios de jovens e adolescentes em decorrência do mundo do tráfico, com alguns registros de 2017 para cá, mulheres estão em locais predominantemente masculinos. Temos o machismo, fruto de algo historicamente construído, em que os homens se sentem donos de mulheres. Inclusive, parte das mulheres reconhecem esse lugar, porque parte delas reforça isso na educação das pessoas, isso precisa ser denunciado”, explica.
Segundo ele, para que haja uma diminuição de crimes contra a mulher devem ser levados em conta o atendimento e a sentença correta para casos de homicídio.
“Para termos a redução do crime contra a mulher, devemos ter um sistema de justiça, que desde o atendimento policial até a sentença, diga não à esse tipo de crime e repreenda a violência contra mulher, de qualquer forma. Temos o exemplo de Mariana Ferrer, onde o acusado acabou tratado como vítima. Iremos conseguir reduzir a taxa de homicídios contra mulher quando as denúncias vierem a público e as denúncias forem acolhidas por um sistema que não cometa o mesmo caso de Mari Ferrer, onde havia cinco homens julgando o caso e nenhuma mulher”, disse.
Débora Mafra, delegada de polícia, que atuou cinco anos na delegacia da mulher, acredita que as vítimas de violência têm medo de denunciar o ocorrido devido ao que o agressor diz.
“Os crimes mais registrados de violência contra mulher são ameaça, injúria e depois lesão corporal, que geralmente já passaram por violência psicológica. Geralmente essas mulheres não denunciam porque estão presas no ciclo de violência doméstica, elas acreditam no que o agressor fala para elas, que sem o agressor elas não são nada, não conseguem ver que existe vida após esse acontecimento. Nós temos uma alta taxa de mulheres negras violentadas, o racismo faz com que homens pensem que possam violentar devido a cor da pele, então isso é a discriminação”, explica.
Amazonas é o 7º do país com índice de mulheres negras vítimas de homicídio
De 127 mortes de mulheres durante o ano de 2018, 110 eram negras, conforma levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O Atlas da Violência 2020, apontou para o registro sobre morte de mulheres no Amazonas por raça/cor, que foi o sétimo estado do país no índice de mulheres negras vítimas de homicídio em 2018.
No primeiro semestre deste ano, cerca de 75% das mulheres assassinadas no Brasil são negras, levantamento que ressalta diferentes contextos de violência e o racismo institucional e estrutural no país.
Apoio
A Lei Maria da Penha (11.340/2006) demonstra mudanças em proteção à mulher. O nome da lei é em homenagem à farmacêutica bioquímica Maria de Penha Maia Fernades, vítima de violência doméstica em 1983, que ficou paraplégica após sofrer agressões do marido.
Em agosto deste ano, a polícia civil inaugurou o núcleo de combate ao feminicídio em Manaus, com o objetivo de investigar casos de homicídio contra a mulher no Amazonas. O local está localizado na Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), na avenida Autaz Mirim, bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus.